A Intenção de Consumo das Famílias (ICF) apresentou um recuo de 0,8% em março, marcando o quarto resultado negativo consecutivo e o mais intenso do período. Os dados foram divulgados pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), que apura mensalmente o indicador. Com isso, a ICF atingiu o menor nível desde março de 2022, registrando 105,7 pontos.

José Roberto Tadros, presidente da CNC, aponta que a queda da ICF em março é resultado da menor oferta de crédito e da desaceleração do mercado de trabalho. Ele ressalta, no entanto, que apesar dessas condições desafiadoras, a intenção de compra permanece em um patamar melhor do que em anos anteriores e ainda é considerada satisfatória.

A pesquisa também revelou outros aspectos importantes. O indicador que mede a percepção sobre o momento para compra de bens duráveis teve a maior queda mensal (-2,2%), mas também foi o que registrou o maior avanço anual (+24,8%). O item Acesso ao Crédito apresentou a terceira maior queda mensal (-0,7%), enquanto o Emprego Atual registrou uma queda de 0,9% em março, o pior resultado dos últimos quatro meses. Por fim, o Consumo Atual diminuiu pelo quarto mês consecutivo (-0,3%).

A redução da intenção de consumo em março foi mais acentuada entre as famílias com renda abaixo de 10 salários mínimos, que registraram uma queda de 0,8%. Já entre aquelas com renda superior a 10 salários mínimos, a queda foi de 0,6%.

No que diz respeito ao gênero, as mulheres apresentaram um recuo mais significativo na intenção de compra, com uma queda de 2,3%, enquanto entre os homens a redução foi de 0,8%. As mulheres também relataram maior dificuldade para acessar crédito, com uma queda mensal de 2,5%, enquanto entre os homens houve um aumento pelo segundo mês consecutivo nesse item.

Perspectiva de Consumo continua positiva

Apesar das quedas recentes, a expectativa para os próximos meses ainda é positiva. O subindicador Perspectiva de Consumo se manteve acima do nível de satisfação, atingindo 108,3 pontos. Embora a proporção das famílias que pretendem aumentar o consumo nos próximos meses tenha caído em março, essa queda foi compensada pelo aumento daquelas que não pretendem alterar seu nível de consumo (29,6%). A maioria (38,5%) permanece com a intenção de consumir mais.

Felipe Tavares, economista-chefe da CNC, destaca que as famílias continuam otimistas em relação ao futuro, mas o ritmo de crescimento do consumo deve ser mais lento nos próximos meses. Ele ressalta que a queda na inadimplência e os juros baixos são pontos positivos que podem ajudar a sustentar o consumo no curto prazo, mas alerta que o mercado de trabalho ainda representa um risco para o consumo.

A CNC espera uma recuperação da ICF nos próximos meses, embora a trajetória de crescimento deva ser gradual. Segundo Tavares, o mercado de trabalho precisa melhorar para que o consumo volte a crescer de forma mais robusta.